Filosofia para Crianças
é uma criação de Matthew
Lipman que tem por base sua tentativa de dar novos sentidos aos
conceitos de Filosofia, Educação e Criança. Filosofia para Crianças só
pode ser compreendida no contexto da Filosofia da Educação do autor.
No final da década de 1960, Lipman fez um primeiro
experimento de suas ideias, escrevendo uma história para crianças que
tratava de problemas filosóficos. Filosofia para Crianças é uma criação
de Matthew Lipman que tem por base sua tentativa de dar novos sentidos
aos conceitos de Filosofia, Educação e Criança. Filosofia para Crianças
só pode ser compreendida no contexto da Filosofia da Educação do autor.
No final da década de 1960, Lipman fez um primeiro experimento de suas
ideias, escrevendo uma história para crianças que tratava de problemas
filosóficos. Para ele, a filosofia pode ter uma versão numa linguagem
acessível à criança. A leitura compartilhada destes textos tem por meta
provocar perguntas sobre os assuntos de interesse das crianças que devem
ser acolhidas pelo professor como ponto de partida para filosofar.A
filosofia começa, diz Lipman, quando podemos discutir a linguagem que
usamos para discutir o mundo. Para desenvolver a idéia de Filosofia
para Crianças, Lipman criouo que chama de Pedagogia da Comunidade de
Investigação. Nesta perspectiva, a sala de aula tradicional deve se
transformar numa Comunidade de Investigação com a participação ativa de
crianças e professores no diálogo sobre os problemas em questão, ou
seja, conceitos de fundo de nossa existência, aqueles que são centrais,
comuns e controversos. O diálogo filosófico é a pedagogia do pensar bem,
ou seja, um pensar crítico, criativo, ético e político. É nesta prática
de filosofia que as crianças formam as atitudes democráticas,
tornando-se cidadãos críticos, reflexivos e participantes do processo
deliberativo.
Nas décadas seguintes, Lipman foi lapidando os conceitos básicos de
Filosofia para Crianças e criou uma série de histórias que chamou de
Novelas Filosóficas. Para cada novela ele escreveu um livro de
orientação aos professores. O processo de formação do professor de
Filosofia nesta abordagem é através da experiência da Comunidade de
Investigação a ser recriada em cada sala de aula.
Uma grande colaboradora de Lipman na elaboração do extenso currículo de
Filosofia para Crianças é a Dra. Ann Margareth Sharp. Juntos com um
grupo de colaboradores fundaram, em 1973, o Institute for the
Advancement of Philosophy for Children (IAPC), instituição vinculada à
Universidade Estadual de Montclair, em Upper Montclair, New Jersey, EUA.
O IAPC tem como objetivo desenvolver o currículo de Filosofia para
Crianças, preparar os educadores para este trabalho através de programas
de seminários, mestrados e doutorados, realizar pesquisas acadêmicas
nesta área e oferecer orientações para a criação de Centros de Filosofia
em outros países. A partir de meados da década de 70, Filosofia para
Crianças teve grande expansão pelo mundo passando a ser conhecido,
traduzido, adaptado e aplicado em todos os continentes.
Atualmente, inúmeros países trabalham com esta proposta adaptada à sua
realidade. Alguns destes países são: Argentina, Armênia, Austrália,
Áustria, Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile, Costa Rica, Finlândia,
Hungria, Islândia, Israel, Itália, Quênia, Lituânia, Malta, México,
Holanda, Canadá, Nova Zelândia, Nigéria, Filipinas, Polônia, Portugal,
China, Romênia, Rússia, Singapura, África do Sul, Coréia do Sul,
Espanha, Suécia, Turquia, Inglaterra, Uruguai.
Filosofia para Crianças chegou ao Brasil pela Professora Catherine Young
Silva, que fundou o Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças
(CBFC), em São Paulo, em janeiro de 1985. Coube ao CBFC a tradução dos
materiais de Filosofia para Crianças, difusão da proposta e a preparação
dos professores. Desde o início, os bons resultados dos trabalhos com
Filosofia para Crianças serviram de estímulo para outras escolas
implantarem a proposta. Uma experiência bem sucedida foi realizada nas
Escolas Públicas de São Paulo, com orientação do Prof. Dr. Marcos
Lorieri, então professor da PUCSP e coordenador do CBFC. A medida que o
Programa Filosofia para Crianças foi sendo conhecido, sobretudo pelos
relatos de experiências, criou uma demanda maior de de escolas e
professores interessados em formação. Na década de 90 foram criados
centros de formação de professor em diversas cidades brasileiras: São
Paulo/ /SP, Campinas/SP, Ribeirão Preto/SP, Florianópolis/SC,
Curitiba/PR, Belo Horizonte/MG, Petrópolis/RJ, Cuiabá/MT, Brasília/DF,
Recife/PE, São Luis/MA.
Em 1995, foi criado o Centro Paranaense de Filosofia e Educação para o
Pensar, em Curitiba/PR, que atuou na difusão de Filosofia nas Escolas do
Paraná e região. Desde 1996, este centro atua em parceria com a
Fundação Sidónio Muralha, poeta português que produziu parte de sua obra
destinada às crianças no período que viveu em nossa cidade.
Filosofia para Crianças revelou-se um paradigma filosófico-educacional
capaz de contribuir significativamente na formação filosófica de
crianças, adolescentes e jovens, tanto no âmbito da educação formal
(Educação Infantil e Ensino Fundamental e Médio) como não formal.
Milhares de educadores conheceram e adotaram as bases teóricas e
metodológicas desta abordagem filosófica melhorando consideravelmente
sua prática. Muitos passaram a ter outro olhar sobre a filosofia e a
educação e continuaram sua formação quer autonomamente, quer ingressando
numa graduação de filosofia, especialização, mestrado e doutorado.
Milhares de crianças tiveram a chance de ser iniciadas nas questões
filosóficas através da experiência da Comunidade de Investigação de
forma mais sistemática.
A relevância de Filosofia para Crianças se prova também pelas críticas
que lhe são dirigidas. Elas apontam erros e limites como o problema do
viés comercial e da organização institucional assumida, a formação
insuficiente dos professores, o modismo, o questionamento sobre a
possibilidade da criança ter acesso à tradição sistematizada da
filosofia, o recorte filosófico desta concepção de filosofia e a
influência cultural e ideológica subjacentes principalmente nos
materiais didáticos, o caráter técnico dos mesmos, a desatualização e
até mesmo a validade do formato destes materiais, a perda de identidade
da abordagem pelo seu uso na forma de clichês ideológicos, dentre tantas
outras. Muitas destas críticas são feitas pelos próprios construtores
deste paradigma. Podemos também nos questionar se estas críticas, nas
devidas proporções, não poderiam ser feitas a tantos outros trabalhos em
nome da Filosofia.
Considerando os aspectos mencionados, Filosofia para Crianças é um
capítulo importante na história do ensino de Filosofia no Brasil,
especialmente por difundir valores e sentidos da filosofia na formação
de crianças e adolescentes da Educação Básica. Certamente esta abordagem
não esgota as possibilidades de se fazer filosofia, é apenas uma delas.
Aponta caminhos que ainda estão por ser trilhados.